Estava a chover lá fora por isso apressei-me a entrar. Rodei a chave que ele me emprestara, e entrei.
Encontrava-me na sala de jantar. Esta era grande, e essencialmente branca. Os pequenos pormentores azuis salientavam-se nas bordas, e assim que se íam aproximando da beira da janela, tornavam-se cada vezs mais verdes. A lareira fumegava com labaredas vermelhas amareladas, que emitiam calor, e uma fragância a conforto. A mesa de pinho puro, no meio da sala, tinha rosas e túlipas no meio desta, e as velas penduradas nos doirados candelabros transmitia umam alegria presente no ar, e o facto de ter dois lugares postos na mesa deixava muito a desejar. Os quadros pormenorizados, pendurados na parede principal, eram pintados a óleo, e transitiam cores vivas, mas no entanto, o as figuras retradadas vivamente, eram incrivelmente sádicas.
O contraste do quarto deixava-me confuso. Por um lado tinha a mesa de pinho, por outro lado os quadros. Não sabia para onde olhar, se para o conforto, ou se para os quandros para descobrir mais daqueles mistério que suspiravam na tinta exposta pelos pincéis.
Apressei-me primeiro a pousar o casaco encharcado e o guarda-chuva. De seguida, dirigi-me aos quadros.
Observava um a um, com maior interesse que alguma vez já dera por mim, e que surgia no facto de cada quadro ser uma peça única e original.
Reparara principalmente num, datado no século XV, onde se encontravam em pormenores pretos e vermelho-escuros, homens e mulheres, a suplicarem por miserircódia a seu amo, e a contorcerem-se, deixando as costelas á mostra devido á fome passada no últimos anos. Ao lado destes, encontravam-se outras pesssoas, mas estas já mortas, com o rosto de terror estampado na sua face. Os ratos apressam-se a comer os órgãos, que saíram do peito dos homens mais maltradados pelas chicoteadas dadas pelo homem de máscara preta que se encontrava em cima de um palco de madeira para matar os restantes á tortura, para servir de lição áqueles que ainda se encontravam ilesos. As famílias dos condenados choravam, tentando desesperadamente passar pelas fileiras de guardas armados. Existia também um cavalo, especialmente bonito, e devia ser importante, pois entre a manta de cores negras, e cinzentas, e a maior parte dos cavalos ser pretos, aquele era branco, e encontrava-se mais elegante e penteado que qualquer outro, homem ou cavalo. Mas no meio daquela confusão, um rapazinho, quase órfão, chorava pacificamente, sem se esforçar sequer por ir ter com o seu pai, condenado a decapitação. O rapazinho encontrava-se junto a um poço, e estava virado de costas.
Abanei a cabeça, para tentar não pensar mais naquilo, e não começar a pensar na morte, e em desilusões e tristezas, visto que a noite, era, especialmente feliz.
Fui ter á mesa de pinho. As túlipas eram azuis, e tinha a forma de um triângulo. Encostei o meu nariz a elas, para comprovar o seu odor. O cheiro era divinal, e era o que eu precisava para esquecer aquelas cenasde brutalidade. Pensava que era impossível um cheiro mais complexo, até que dirigi-me ás rosas. Estas, eram brancas, delineadas na sua forma com linhas de cor vermelha, e as manchas irregulares no centro delas, eram também, vermelhas. Cuidadosamente, cheirei-as. O sentimento do meu corpo não me agradou. Estava á espera que aquela beleza se transimisse no cheiro, mas o complicado odor que esta libertou, deixou-me uma sensação de mau estar, mas ao mesmo tempo, de aviso. Não que o cheiro não fosse bom, pois era. Apenas alertou-me.
Caminhei para fora da mesa. Ela já estava atrasada, e o nosso jantar de anos não se ia fazer sozinho. Com um pressentimento que não devia fazer aquilo, enquanto esperava por ela, voltei-me a dirigir para o mesmo quadro.
Assim que pousei os meus olhos nele, reparei numa coisa que me deixara completamente paralisado. Não sabia se tinha alucinado agora, ou da primeira vez que o vi, mas uma coisa era certa, estava a alucinar - a criança pobre e inocente, do choro infantil, encontrava-se agora, a com um riso sádico estampado no rosto, e ela encontrava-se em cima do cavalo branco, no qual estava estendido no chão, morto, a transbordar de sangue que já se encontrava nos pêlos brilhantes nas bordas. O cavalo, inicialmente branco, começava a tornar-se coberto de sangue, e o rapaz continuava em cima deste, rindo. Todos no quadro estavam mortos - escravos, donos, carrascos e nobres.Apena s o rapaz, de média estatura se encontrava imóvel, fixo, em cima do cavalo com um riso estampado no rosto e uma pinga de sangue nos seus lábios. Reparara agora, nos dois dentes aguçados que se encotravam na fila da frente.
Subitamente, um choro infantil ouvia-se vindo de outra divisão da casa.
Começava-me a sentir mal, pior do que quando cheirei a rosa. De repente, os meus joelhos fraquejaram, e descaí-me. Esforçava-me por levantar, mas o peso que o meu corpo carregava, era insuportável. Avancei, apoiado nos cotovelos, metros para a frente. A dor tornava-se cada vez mais agudam, e eu já, sem perceber porquê, começara a rezar. Quando cheguei á mesa, sabia que tinha de ver uma coisa, uma pergunta imbecil no qual a resposta não faria sentindo algum. Apoiei-me na mesa , e consegui-me levantar para observar apenas uma coisa - a rosa.
O que eu vi, chocou-me. Tal como acontecera com o cavalo, a rosa, inicialmente branca, com pequenos detalhes encarnados, encontrava-se inteiramente vermelha, e estava já descaída.
Deixei-me caír para o chão. Não aguentava mais. Sabia que ra tudo fruto da minha imaginação, e eu sabia que se estivesse no mundo real, nada me aconteceria. A minha respiração era pior que ofegante, e já tinha dificuldades em ver. Num rápido relance, vi por entre as pálpebras um rapaz de estatura média, com um riso no rosto, dois dentes aguçados, e com os olhos debaixos do sobrolho pousados em mim, encontrava-se a cheirar a rosa.