quinta-feira, 18 de junho de 2009

Blue Tree

*You're like a tree*

Era uma árvore.

Vivia numa floresta, onde todas as árvores eram as mais belas.

***

Todas brilhavam radiantemente á luz do sol, todas tinham os seus frutos característicos.

Todas tinham as suas flores.

Os troncos das árvores, aguentavam o peso de
toda a árvore.

Emaniam outros ramos, pequenas esperanças, que se envolviam no verde das copas.

As copas, majestosas, reflectiam a luz do radiante sol, e competiam umas com as outras para ver qual era a mais verde.

Pássaros iam e vinham repousar nos ramos mais superiores, e cantavam alegremente.

Alguns faziam o ninho, e assentavam.

Porém, debaixo da terra, onde ninguém pode ver, encontram-se as raízes.

Não se vêem, porém, são a parte mais essencial de toda a árvore.

São capazes de dar o apoio necessário ao tronco para este aguentar com todo o peso da vida da árvore.

Entreajudam-se.

E são estas, que ajudam a reconstituir a árvore se o tronco for cortado.

A floresta era linda.

Todas árvores eram perfeitas.

Todas eram especiais pelo seu número de pássaros, de folhas verdes, da largura do tronco.

Mas lá no meio, existia outra árvore.

***

E era uma árvore.

Vivia numa floresta onde todas as árvores eram as mais belas.

Mas esta era diferente...


Era azul.

*You're like a blue tree*


P*



sexta-feira, 12 de junho de 2009

Marioneta


Achas que sou um boneco.

Achas que me consegues controlar.

Achas que me moldo à tua maneira de ser, ás tuas crenças.

Achas que consegues puxar os fios e controlar-me.

Tentas atrair-me com a tua ideia, a tua mentira.

Tentas afirmar que o meu mundo está todo ao contrário e que o teu é o caminho a seguir.

Chamas ao que tu segues verdade? Chamas justiça?

Achas que o facto de eu só lutar para atingir os meus objectivos seja hipócrita?

Talvez isso sejas tu. Não lutas pelo que queres, e usas sempre a mesma desculpa.

Ainda me culpas e questionas-me? Ainda te ris da maneira de como eu e todos somos?

Sim, pedi-te ajuda...mas não dessa maneira.

Talvez tenhas sido capaz de ter preenchido um capítulo do livro, mas não mudas-te a capa.

Não, não vou mudar o que sinto. Pelo menos não desta maneira.

Posso estar enganado? Claro, aposto que até redondamente.

"Mas porquê?" - perguntas-te -"Porque é que fazes isso mesmo que não acredites?"

Também não sei. Mas isso não muda nada.

Achas que sou uma árvore sem raiz, uma guitarra sem cordas, com uma vivença sem qualquer tipo de fundamento.

Mas olha para mim. Não sou uma marioneta. Não tenho fios. Ou pelo menos, se os tiver, não és tu que os deténs.

Fecham-se as cortinas. As marionetas saem do palco. Os mestres mostram-se pela primeira vez.

Mas então faço-te a mesma pergunta que me fazes: Se eles acreditam que as marionetas não são humanas, porque é que eles continuam a controla-las espectáculo após espectáculo?

Eu tenho as minhas crenças tu tens as tuas. Gostava que respeitasses isso.

Não sou um boneco.

Não me consegues controlar.

Não tenho fios.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

*Jogo*


"Paciência, arriscaria, esperaria o tempo que fosse preciso"

***

Ainda me impedia de dar o próximo passo, de arriscar todo o passado, presente, e futuro da minha vida. Não sabia ao certo o que fazer.

Claro que não demorei muito tempo a decidir-me. Chamem-lhe epifania, irresponsabilidade, ou simplesmente adrenalina. O certo é que a conversa da Fé ajudou-me a dar o próximo passo.

Por isso, dei-o.

Foi o primeiro passo que dei naquele pseudo-jogo em que tinha a certeza do que me esperava a seguir.

Seria? Bom, de qualquer maneira, umas boas surpresas não fariam mal a ninguém.

O meu pé flutuava em direcção ao segundo degrau, devagar. De certa maneira, estava a pensar mais que duas vezes.


Repousei o pé no segundo degrau. Uma luz incadescente ofuscou-me os olhos. Assim que os voltei a abrir, já não estava no mesmo sítio...outra vez.

Morri. Não sei como nem sei porquê nem todas as outras perguntas obvias, mas o certo é que encontrava-me no lugar mais belo que eu já me encontrara. As árvores verdes e jovens sacudiam as folhas ao sabor do vento acalmante, de querer respirar mais do que conseguimos, sobre o prado verde claro, rasgado pelas mais belas espécies de plantas, flores. As árvores albergavam frutos perfeitos que reflectiam a luz do sol, que descansava sobre o céu mais imaculado que sentira. Maçãs vermelhas e límpidas salientavam-se na nossa visão atrás do verde perfeito que eram as copas das árvores. As colinas eram de ligeira inclinação, e grandes rochas descansavam sobre estas. Rochas estas, perfeitamente desenhadas, quer fosse quadradas ou esféricas, alinhavam-se perfeitamente com o resto da visão. Os animais eram sobretudo pássaros, cantadores, que antavam uma melodia inimaginável. Estavam felizes.

Descansava...em paz.

Ainda, continuava com a mesma sensação de Déjà-Vú do que no meu primeiro "incidente". Mais uma vez, decidi ignorar.

Era Inverno, e o Sol batia na minha cara com tanta pureza que me fazia sentir a Primavera.

Por mais estúpido que possa parecer, tentava encontrar S.Pedro, e a perguntar-me: se realmente morrera, e aquilo era realmente o céu onde estavam as portas? Ridicularizava-me com aquela pergunta. 

Foi aí que me ví. A andar, pacificamente, de bicicleta sobre o perfeito mundo.

Estonteado, perguntava-me vezes sem conta quando é que eu estive naquele lugar a que posso chamar de paraíso, pois estava consciente que nunca estivera alí.. A verdade, é que nunca estivera alí. Lembro-me apenas de estar a contar as estrelas no céu, e de adormecer. Depois disso...sonhei.

Aí estava a razão pela qual eu me lembrava do mesmo prado, das mesmas rochas, do mesmo sol...já tinha sonhado com a perfeição.

Mas se eu me lembrava bem, o sonho não acabava propriamente de uma maneira feliz...

Lembro-me pelo menos de a continuação deste "paraíso" ter uma "descida súbita em direcção ao mar".

E de que não faltava muito tempo até isso acontecer.

Tentei fazer o que podia, lembrando-me de que não podia interferir directamente. Não parava de me perguntar porque raio é que Ele tinha de inventar a regra mais inútil...

"No entanto, não podes interferir directamente "contigo". Apenas te podes sussurar, tentar indicar o caminho correcto"

Disse-me tudo o que sabia que poderia fazer efeito, mas o eu pequeno não parava. Já conseguia avistar a falésia ao fundo, mas parecia que o rapazinho nem sequer se entretinha a olhar para onde vai.

Foi então aí que o tempo parou, imobilizou. Até o pequeno parou, mas eu continuava em liberdade corporal. 

-Então, precisas de uma mãozinha ou achas que te consegues safar? - era esta voz que me faltava. Tinha que ser esta voz, a mesma que me impulsionou a começar sequer esta "mudança de vida", que me vinha perguntar se precisava de uma "mãozinha" para apenas com palavras me impedir de cair num penhasco. Ele encontrava-se inicialmente sentado em cima de uma das rochas, e quando perguntou se me conseguia "safar", desceu ao nível dos meu olhos.

-Bom...para ser sincero acho que nunca vou deixar de precisar dela. - e olhei-Lhe pelo sombrolho...arrependido -  Mas para ser mais concreto, o que é que eu posso fazer para este rapaz ás direitas não ficar aos oitos? Desculpe dizer-Lhe, mas as palavras nem sempre resolvem tudo... pelo menos comigo.

-Infelizmente não. As palavras nem sempre resolvem tudo, e se não forem ditas correctamente até podem piorar. Hoje em dia as pessoas têm cada vez mais fechado o seu pequeno mundo de ignorância e pecado a uma pequena caixinha que só se abre com acções concretas...já não se fala bem, de amizade e amor como antigamente Já não existem esses valores na maioria das pessoas. Mas isso não quer dizer que nunca devas tentar de falar antes de agir! Mesmo assim, há certas ocasiões em que deves reagir...fisicamente.

-Isso possibilita-me de reagir fisicamente?

-Claro que sim. Mas como tu dever achar, eu tenho obviamente de te impor mais uma regra em contrapartida...senão, isto parava de ser constructivo para ti. Já para não falar que perdia toda a piada. - E piscou-me o olho enquanto soltava um riso abafado.

-Pois, já devia ter adivinhado...o que tenho de fazer desta vez, interferir só ao pé coxinho? - o meu ar de sarcasmo não foi propriamente de cavalheiro.

-Não, mas com esse ar bem que podia ser. Devias livrar-te desse sarcasmo, só te faz mal. - E continuou - Enfim. A regra que te queria impor era: podes interferir fisicamente á vontade, mas mais uma vez, não directamente. Ou seja, podes transportar objectos, mudá-los etc. Até te podes transfigurar! Apenas não podes ter contacto físico contigo mesmo. Nem dar o pequeno a saber que tu "existes".
Compreendes? Achas que consegues aguentar com isso?

-Tenho alternativa? - perguntei com um suspiro de quem é burro sobrecarregado.

Ele mais uma vez piscou-me o olho, com um sorriso que dá forças.

Olhei para o chão com um ar pensativo. Pensava no que iria fazer. 

Quando finalmente cheguei a uma resposta, Ele já se encontrava fora dalí e o eu mais pequeno já estava a pedalar com tanta alegria que se via na sua cara.

Apressei-me a ir ao pé dele. De mim...

Não sabia se iria resultar...o certo é que não tinha muito tempo. Lembrava-me que, por volta daquela idade o que eu gostava era de papagaios. Parecia-me idiota, e o certo era aquilo não resultar...

...

As penas faziam comichão, e o bico era extremamente longo. Lutava para me manter no ar. Lutava para me manter vivo.

Consegui posicionar-me de maneira a ficar á frente da visão do rapazinho. 

Este olhou directamente para mim. Os seus olhos brilhavam radiantemente a observar o pássaro multi-colorido, e fixa-me com tanta força que foi forçado a mudar de direcção. E assim ele mudou de caminho. Eu mudei de caminho.

Resultou. Não conseguia conceber a ideia de que fiz uma coisa bem feita.

Passou á tangente da falésia, e eu lutava ainda por voar. 

A certa altura, olhei para trás. Não me via. Já não estava lá.

Parei de lutar, e caí. Caí como que uma pedra cai no abismo, e aterrei na relva suavemente confortável. Virei-me de maneira a posicionar a cabeça para cima, de maneira a que o sol entrasse pelos meus olhos, como que a chama que nos acende no meio de uma tempestade dos frios.

Uma figura tapou a luz viva.

-Então "Zazu", já no chão? - não consegui esconder o sorriso - Vamos lá, o rapaz já está bem...o sonho dele acabou. E o teu?

 Percebi o queele queria dizer. Ele percebeu o que eu lhe queria dizer.

-Muito bem então. Vamos. - Afastou-se e parou de me bloquear o sol. A radiação emitente deste brilhava ainda mais intensamente do que antes, e quando consegui voltar a ver onde estava, encontrava-me na grande escadaria.

Imobilizei-me. Tinha uma pergunta a fazer-lhe:

-E agora...a minha vida vai-se formando a partir dos passos que dei? - perguntei...

Não sabia ao certo se estava certo ou não. Não sabia qual seria a resposta, a resposta que iria formar o resto da minha vida.

Sentia um peso no peito, e inclinava-me em tom de expectação. Esperava a resposta, ansiosamente. 

Finalmente, fez-se ouvir uma voz, um suspiro...era Ele.

-Não. A tua vida não se vai formando a partir dos passos que deste... - e continuou - Vai-se formando a partir dos passos que irás dar.

***

*Achas hipócrita eu só lutar para atingir os meus objectivos?* - rapaz das pastilhas